
Regressemos às minhas memórias enófilas. Embrenho-me, desta vez, nas colinas, nos montes, nas escarpas serpenteadas do
Douro. Recordo, com agrado,
três trabalhos que haviam destinado para mim. Pouco sabia sobre eles. O
desafiador referiu, apenas, que apresentavam obstáculos mais ou menos

complicados. De resto, não foi disponibilizada qualquer pista. Os desenlaces apesar de distantes, eram passíveis de ser alcançados. Tudo dependia, naturalmente, da minha sagacidade, da minha capacidade para levar a bom termo as demandas propostas. Sabia que estava, mais uma vez, a ser testado.
O
primeiro trabalho, Quinta da Leda 2004, foi feito na presença de aromas quentes, onde o cacau, o caramelo a

canela se envolviam de tal forma que não era possível saber onde um começava, onde outro acabava. Tudo se
desenrolou em redor de uma pequena e suave colina. Ao longo do caminho, subindo para cima, um pouco lá mais para o alto, foram aparecendo algumas flores e fruta, que apesar de bem madura, apresentava-se fresca,
roliça e suculenta. Os bálsamos combatiam algum excesso de doçura que deambulava sistematicamente por ali. Pequenas
torrentes de água fresca iam batendo na cara
aliviando a pressão. A jornada, que inicialmente sugeria ser mais longa, terminou de forma quase abrupta num pequeno planalto, onde se podia contemplar a paisagem. Extensa. Foi, apesar de tudo, um trabalho brando. Mas não podia esquecer-me:
Estava no início. Atribui a apaziguadora
Nota Pessoal de
16.
Passemos para o
segundo trabalho:
Chryseia 2003. Inicialmente as tarefas pareciam ser idênticas às do primeiro trabalho. No entanto, ac

abaram por desenrolaram-se num cenário bem diferente,
algo oriental, mais especiado, na presença de madeira exótica. Foi curiosa a sensação. Julguei-me no meio de uma buliçosa rua, preenchida por bazares, onde tigelas alinhadas de açafrão, de gengibre, de pimenta, de canela e baunilha soltavam cheiros incisivos que rodopiavam em redor da face. Nas bancadas de trás, frutos secos. Tâmaras, figos, amêndoas, avelãs. O fim parecia distante, a intensidade de aromas confundia. Desemboquei numa pequena praça onde o perfume de flores, de arbustos verdes, circulava em volta de um pequeno charafiz. Permitiu respirar e descansar. Foi um trabalho cheio de provocações. Ofereci-lhe a
Nota Pessoal de 16,5.
O
último trabalho:
C.V. 2004. Muito antagónico, completamente diferente dos seus

antecedentes. Mais enigmas, mais obstáculos para remover. Mais difícil. O
ofício foi feito em ambiente mais húmido. Com minas para percorrer, rocha para partir. Depois os trilhos assentavam, quase sempre, em terra revolta e escura. Sempre rodeados por mato cerrado, penhascos bem altos.
Os desafios
pediam músculo, preparação. Um incauto poderia
aleijar-se,
perder-se. O descanso era feito nas pequenas brechas que iam irrompendo. O momento era aproveitado para colher reconfortantes e sumarentas bagas silvestres. Não havia tempo para descansar demoradamente. A complexidade da caminhada era alta. Chegado ao desejado termo, percebi que a adversidade depois de ultrapassada acaba por ser doce. Deslumbrei-me e dei-lhe a
Nota Pessoal de 17.
Trabalhos cumpridos. Reparei, desta vez, que as coisas tinham corrido de forma mais pacifica, sem grandes polémicas, sem grandes confrontos de ideias. Os contraditórios, no final, foram curtos e de pouca intensidade.