Existem dias, horas, minutos de pura devassidão enófila. São momentos em que as badaladas provas cegas não deviam contar, nem interessar. Deviam ser afastadas para bem longe da vista. Deviamos beber os vinhos e comer os rótulos. Ambos sabem bem, demasiado bem. Quando assim é, a estroinice é imensamente grande, quase opressiva e irrecusável para andarmos alucinadamente à procura de quem é quem. Uma perca de tempo. Quem consegue virar a cara, simulando que não quer beber às claras? Corremos o risco, no fim, de divagarmos, inutilmente, sobre a razão do estado de saude dos vinhos.
Existem, de facto, vinhos que não devem ser bebidos às escuras. Perde-se metade, se não totalidade do prazer. São ícones. Tapar-lhes a cara é o mesmo que compará-los a algo de trivial, ausente de culto e desejo carnal. Somos homens, caçadores de troféus. Gostamos de mostrar ao povo os despojos de uma longa lide. No fim, e apesar do cansaço ser imensamente grande, sobra uma enorme satisfação. Provas cegas, sim claro, mas com a dose certa e com sentido.
Comentários
Os rótulos e as marcas a eles associadas servem primariamente os objectivos do Marketing, e secundariamente os consumidores que se fazem passar por enófilos, mas que na realidade mais não fazem que ler o rótulo e que se lhes retirarem o papel da garrafa não sabem distinguir uma Touriga Nac. de um Syrah. Claro que existem grandes marcas que são ícones do que melhor se faz na Enologia e Viticultura em Portugal e que merecem ser apreciados em todo o seu esplendor, roupagem incluida. Mas em ultima análise, uma prova cega revela o melhor e o pior, quer do vinho, quer do provador.
Pergunto eu, ingenuamente: Fará sentido para um consumidor, é neste patamar que gosto de situar a conversa, beber um BV ou outra coisa qualquer Às cegas?
Francisco