Restauração de Alcochete: Um Sucesso por explicar!

Existem fenómenos que não entendo. Faço um esforço para entender a razão disto ou daquilo, mas não consigo encontrar justificações plausíveis. 
Vivo em Alcochete, mais coisa menos coisa, desde que a Ponte Vasco da Gama foi inaugurada. E desde essa altura, reparo que esta vila apenas cresceu em betão armado, sem estruturas socais e de lazer que sustentem este aumento da população. Na verdade, o que existe nesta localidade, que está paredes meias com o distrito de Santarém, não serve tamanha concentração de pessoas. Mas adiante. 
Após vinte anos a frequentar esta vila, não entendo o sucesso da restauração de Alcochete (e do Montijo também). É uma restauração em que se baseia essencialmente na travessa de alumínio (mal servida), na trivial batata cozida com brócolos e no presumível peixe de mar. Peixe do mar que é, dizem as más línguas, comprado nas grandes superfícies comerciais da zona. Bom, posso dizer-vos que me cruzo, bastas vezes, com muitos gerentes e donos de restaurantes, vejam lá, nas bancas de peixe dos supermercados e hipermercados. Reparo que compram o mesmo peixe que eu e aproveitam as mesmas promoções. Mais interessante, depois, é ouvir os comentários das senhoras peixeiras dessas bancas: "depois dizem que é da lota de Setúbal ou do mar..." Vocês não imaginam as caixas de peixe e outros produtos do mar que saem destas áreas comercias, com destino aos mais famosos restaurantes da terra. 


É uma restauração pobre, monótona, onde tudo é igual. Dizem que é terra de caldeirada. Caldeiradas profundamente inócuas, servidas e feitas às três pancadas, em que o peixe escolhido é pouco, pouquíssimo e quase sempre o menos nobre e o mais barato. Nobre, só o preço. Aliás, só o preço é que situa em patamares elevados. 


Se quisermos fugir do peixe assado, temos as carnes. Carnes de excelência, grelhadas no ponto, compradas nas promoções dos mesmos supermercados e hipermercados da zona. As opções são muitas: entremeadas, costeletas, entrecosto, costela de vaca ou salsichas frescas. Umas vezes são do Intermarché. Outras vezes são do Pingo Doce. Mas também podem ser do Continente. Acolitadas com aquela batata frita especial, pré-congelada, do pacote e que podemos comprar nos mesmos lugares de onde vem o peixe e a carne.
O marisco, principalmente os crustáceos, é seleccionado a partir das melhores promoções e proveniente, também, das melhores produções de aquacultura. Principalmente asiáticas. As famosas ameijoas são, naturalmente, do rio Tejo. Apanhadas pelas inúmeras mãos romenas ou tailandesas, que se dedicam à apanha desta iguaria local. 
Os poucos projectos que pretendem ser diferentes são, muitas vezes, pretenciosos, não tem alma, são caríssimos para o que oferecem e já estão mortos, logo à nascença. Os que vão vivendo e sobrevivendo é porque são finos e elegantes (cof, cof) e fica bem frequentá-los. 
Por tudo isto e mais alguma coisa, vemos os passeios cheios de carros amontoados, filas de espera, ruas cheias de gente, restaurantes abarrotar, logo a partir de quinta-feira. Mesas alinhadas na rua, forradas a papel, azeitonas miseráveis, como entrada, vinho em jarros de água. Autêntico sucesso. Resta-me praticamente um único local em Alcochete, que frequento com muito prazer. Um autêntico oásis. 

Comentários

Artur Hermenegildo disse…
Já agora, qual é esse local que ainda frquentas?

Eu fui algumas vezes ao Arrastão e gostei bastante, mas já há algum tempo que lá não vou.
Pingas no Copo disse…
Artur um pequeno bar, que faz petiscos. Nada de gourmet, mas o rapaz (dono do espaço) tem mão para a coisa. São pequenos petiscos, com podes acompanhar com um copo de vinho. Tb tem conservas.
Um espaço pequeno, é pena que não tenha mais rodagem e sucesso, mas sai fora do tradicional da terra. Chama-se Adega dos Sabores.

Sobre o O Arrastão que frequentei muitas vezes, cansei. Sempre o mesmo...
Clibanarius disse…
É fácil gozar com a cultura "foodie" que tomou conta de Lisboa e queixarmo-nos do aumento dos preços nas grandes cidades ou das localidades mais turísticas nos últimos 5-10 anos, mas não se pode negar as melhorias que tudo isso trouxe em termos de qualidade, variedade da oferta e (chamem-me snob à vontade) sofisticação da restauração em geral. Em muitos sítios no resto do país só se encontram os bons (?) e velhos restaurantes de comida fartabrutos à antiga portuguesa, com ementas que não mudam há 20 anos. Pelos vistos é assim em Alcochete. Estive em Tomar no ano passado e, com 2 ou 3 excepções, a restauração estava parada no tempo.